Para inaugurar minha chegada por aqui no Beauty Editor, pensei que não haveria nada melhor do que falar sobre a temporada de desfiles que acabou de acontecer, a SPFW Verão 2017.
Eu, que sou da moda, tendo a olhar para texturas, cores, materiais, comprimentos, mas confesso que a beleza da passarela sempre me encantou. É interessante entender como cabelos e makes se tornam ferramentas do estilista para afirmar sua ideia criativa e imprimir uma imagem de moda na cabeça de quem assistes aos desfiles. O tema é longo e renderia quase um livro, mas como a internet é rápida, fiz uma seleção com três dos meus queridinhos da saison. São criadores com uma identidade superforte, que ajudam a ilustrar na prática como funciona esse casamento moda + beleza. Espero que gostem!
JULIANA JABOUR
Juliana Jabour é famosa por seus moletons cheios de bossa e uma moda com pegada sportwear, que há tempos caiu no gosto das meninas descoladas. Nessa temporada não foi diferente. A inspiração do desfile veio de um documentário sobre o surgimento do skate, no final da década de 1970. Na passarela, tudo tinha um quê de California Dream. A beleza, assinada pelo maquiador e cabeleireiro Henrique Martins, emanava um perfume vintage, com cabelos com muito movimento. Eles vinham ora soltos, com um leve quê de Farrah Fawcett (atriz americana musa da época), ora num rabo-de-cavalo alto e bagunçadinho. Make sempre com bochechas coradas e sardinhas fake, muito solar!
Nos looks, destaque para as bermudas e shorts com recortes estilo surfer, as jaquetinhas bomber (quero todas já!) e materiais que remetem ao universo esportivo, com o devido upgrade de tecidos como georgette de seda e tafetá. O couro também teve lugar, formando um patchwork colorido, nos tons do pôr do sol. Resultado: street style deluxe, num encontro perfeito entre moda e beleza.
REINALDO LOURENÇO
Posso afirmar com tranquilidade: Reinaldo Lourenço é chique, sem exceções. O estilista prima pelo detalhe na construção de uma alfaiataria impecável, que consegue ser desejo sem nunca ficar datada. A roupa do Reinaldo tem cara de Reinaldo e isso é algo raro de se ver em tempos de tendências-relâmpago, que seguem o ritmo frenético do fast fashion e das redes sociais. Nessa coleção, ele diz ter se inspirado muito em seu próprio repertório (ou seja, nos conceitos de moda que vem construindo ao longo dos mais de 30 anos de sua marca). Alguns detalhes que exemplificam bem isso? As faixas de tecido sobrepostas, que formam listas de diversas espessuras, e as calças de comprimento cropped com caimento perfeito.
O que esperar do make? Uma construção cromática alinhada com o tom dos looks desfilados, pele perfeita e batom impecável (artes da Fabiana Gomes, maquiadora sênior da MAC e parceira de longa data do estilista). Cabelos milimetricamente penteados, para trás ou para o lado, e com efeito molhado, para arrematar o tom minimal-chic que Reinaldo tanto ama (e eu também!). Esses, foram assinados pelo hair stylist Ricardo Rodrigues, do Studio W.
LINO VILLAVENTURA
Lino faz de seus desfiles uma verdadeira obra de arte. Ele nunca se contenta em apenas exibir roupas, seus shows têm sempre algo de teatral – são grandiosos e emocionantes. Este ano, se superou. Em vez de propor que as meninas simplesmente desfilassem, chamou Miro, um dos melhores fotógrafos de moda do Brasil, para clicar um editorial ao vivo, ali mesmo na passarela, com direção artística de ninguém menos que Paulo Borges, diretor da SPFW. O resultado: de cair o queixo. Imagens das mais bonitas que vi nos últimos tempos, que poderiam tranquilamente estampar as páginas das melhores revistas internacionais, só que feitas em real time, bem na frente da plateia.
Sobre a beleza, as imagens falam por si só. Lino Villaventura e Marcos Costa, beauty artist que assina os seus desfiles há anos, sabem como poucos costurar uma história de moda na qual a beleza é fundamental. O melhor exemplo disso talvez sejam os adornos que enfeitavam a cabeça das modelos: montados com infinitos metros de renda toda manuscrita pelo estilista. Menção honrosa para as bocas, criadas a partir um feixe alongado de cor que avançava bem além dos limites dos lábios. Tinham um quê de monásticas, de bocas fechadas em um poético voto de silêncio. Para aplaudir de pé.
Fotos: Agência Fotosite/divulgação SPFW