Uma base para pele negra com cor adequada, textura de acordo com seu gosto – mais leve ou mais pesada –, cobertura ajustável e, para completar, ativos especiais que tratam envelhecimento cutâneo, previnem manchas e combatem a acne. Parece sonho de beleza? Pois é essa a promessa das bases manipuladas por Felipe Mello, farmacêutico da Pharmapele Ondina (falamos mais sobre a inauguração dessa farmácia de manipulação neste post aqui).
Negro e morador de Salvador, Felipe conhece de perto as necessidades do nosso tipo de pele e as exigências das condições climáticas – além de termos propensão natural à oleosidade, o clima quente e úmido deixa ainda mais difícil combater o brilho excessivo e a formação de espinhas.
As bases da linha manipulada de maquiagem para pele negra estarão disponíveis a partir de fevereiro de 2018. Obviamente, já estou super curiosa para testar – mas, enquanto ainda não posso manipular a minha própria, conversei com Felipe sobre o lançamento e cuidados dermatológicos para o público negro. O papo rendeu!
VANESSA: Soube que, a partir de fevereiro, estarão disponíveis bases manipuladas, especialmente para pele negra, na Pharmapele Ondina. Em que fase da criação vocês estão?
FELIPE: Vamos começar a fazer os testes de cor em voluntárias. A pele negra tem várias tonalidades. Dermatologicamente falando, se classifica em fototipos 3 e 4, os mais escuros. Mas, do 3 até o 4, temos uma variante muito grande de nuances, com fundos específicos – amarelado, avermelhado… Além do mais, há outros fatores, como nível de cobertura e textura, que queremos variar para ampliar as opções. O plano é desenvolver uma base que não deixe o rosto brilhante e melado (peles negras são naturalmente mais oleosas) e que atue bem em climas diversos, incluindo os úmidos e quentes, como o de Salvador.
V: Suas bases serão cruelty free?
F: A ideia é essa. A Biodiversité, empresa de beleza que produz os ativos pigmentantes que usaremos nas bases, só cria produtos veganos e cruelty free. O bom é que, além de politicamente correto, esse tipo de componente tem menos risco de provocar alergia, por isso é muito mais versátil, todo mundo pode usar. Os dermocosméticos que vendemos prontos aqui na Pharmapele também são veganos – são produzidos pela Novexpert, empresa da mesma família da Biodiversité. Voltando às bases de maquiagem, nossas fórmulas terão argila verde e argila preta como base, e estamos testando resistência, absorção, cobertura das imperfeições, etc. E, além dos pigmentos cruelty free e das argilas, focaremos em componentes vegetais.
V: Para obter essa base, a cliente precisará solicitar a manipulação na hora ou ela estará disponível na prateleira?
F: Algumas opções estarão disponíveis na prateleira, mas em casos mais específicos, poderão ser manipuladas. Essa é a vantagem da manipulação, você pode adaptar a fórmula às suas necessidades. Dá para tanto alterar a cor como inserir Vitamina C, ativos anti-inflamatórios, mais proteção solar…
V: E quem gosta de texturas diferentes, poderá customizar esse aspecto?
F: Temos também como ajustar. Podemos aumentar viscosidade, cobertura, controlar leveza e peso.
V: Qualquer farmacêutico pode desenvolver maquiagem, ou é necessária uma certificação específica?
F: Qualquer farmacêutico pode desenvolver, mas é preciso ter um avaliação da fórmula antes de iniciar a comercialização. Quando eu crio meus produtos, envio para um laboratório em SP e eles fazem a análise de microorganismos, para assegurar que não há contaminação, e a análise físico-química, que descobre se o PH está adequado. Essas são questões importantes, pois ao usar uma base contaminada com bactérias, o cliente terá a sua pele prejudicada – podem surgir espinhas, alergias, entre outros problemas, especialmente se houver lesões em sua superfície. É preciso tomar cuidado com produtos “orgânicos” feitos em casa, porque fora de um laboratório nós não temos esse tipo de controle. O produto orgânico do bem, certificado, não tem – ou inclui pouquíssimos – ativos químicos em sua composição. As certificações europeias mais reconhecidas, seguidas pelas empresas mais sérias, exigem 95% de ativos totalmente naturais na composição e, por isso, contar com uma delas na embalagem faz a diferença – procure no rótulo quando for comprar. Muitos produtos intitulados orgânicos aqui no Brasil possuem metilparabeno, álcool, entre outros ingredientes, na sua composição…
V: E esses são justamente os compostos de que as pessoas que usam orgânicos querem fugir, por causa dos estudos que comprovam seus efeitos indesejáveis…
F: Exato. Quanto mais mudarmos nosso padrão de alimentação e estética e mais formos cuidadosos na escolha dos nossos produtos de beleza, mais nos afastaremos dos riscos.
V: Quais cuidados nós, que temos pele negra, podemos aliar ao uso do filtro solar para evitar manchas – que são super chatas de tratar?
F: Recomendo o uso diário de tratamentos com Vitamina C, que é antioxidante e previne o envelhecimento da pele. Existe um mito de que a pele negra não precisa de cuidados, que é só lavar e pronto. Mas, na verdade, pessoas negras se mancham com muita facilidade, e não podemos começar o tratamento já a partir de um ácido agressivo, mas sim adotando um ácido de ação mais controlada, caso dessa vitamina, que irá homogeneizar a pele e evitar a hiperpigmentação. Só depois é que devem entrar as intervenções mais fortes. E, nesse momento, é importante buscar dermatologistas que se debrucem sobre a beleza negra, entendam realmente desse tipo de pele.
Foto: Vanessa Ventura
2 Comentários
Que notícia mais maravilhosa!!!!!!!
Desejo muito sucesso para esse empreendimento, e expanda-se para o maior número de cidades do país!
Vamos torcer para surgirem outros espaços como este, né? Beijo!