Já ouviu falar no projeto Humanae? Eu nunca tinha visto ou lido nada sobre ele até ontem, quando me deparei com uma reportagem sobre o assunto publicada na revista Serafina (da Folha de S. Paulo). Mas o delay não me impediu de ficar completamente fascinada. Não só pelo fato de sua criadora, a artista brasileira Angelica Dass, ter atingido totalmente o seu objetivo – provar que a raça humana é composta por muito mais do que brancos e negros, que não podemos ser categorizados simplesmente assim –, mas também pelo trabalho revelar uma sutileza que nem sempre percebemos racionalmente, mas que olhos bem treinados (e, normalmente, habituées do universo da beleza) já aprenderam a identificar.
Primeiro, deixa eu falar do projeto da Angelica propriamente dito. A artista vem fotografando, já há alguns anos, pessoas do mundo todo sempre à frente de um fundo branco. Depois, com o auxílio da computação gráfica, seleciona uma amostrinha da pele do rosto do retratado, compara-a com a cartela de cores da Pantone (referência internacional em indexação de tons) e usa a nuance encontrada para preencher o fundo. O resultado? Uma nova tabela, essa de cores da pele humana. Que demonstra, em seu conjunto (hoje já são centenas de fotos em seu arquivo!), como somos diversos e como nossa espécie é, na verdade, multifacetada. Criativo demais e muito instigante!
Agora, o segredinho extra que o projeto também documenta. Tente responder rapidinho a esta minha pergunta: se cada fundo é, tecnicamente falando, uma reprodução exata da cor da pessoa retratada, por que ele não se junta e se confunde com o personagem da imagem? Eu conto. É porque, além da moldura proporcionada pelo cabelo e do destaque obtido com a iluminação (juntos, eles ajudam a “descolar” o fotografado daquilo que fica por atrás), outro detalhe crucial interfere no conjunto e evita que a fusão entre indivíduo e fundo aconteça: cada pessoa apresenta, no seu rosto e no seu corpo, muitos tons e subtons –somos múltiplos também do ponto de vista individual! Algumas áreas são mais escuras, o que traz profundidade e drama. Outras são mais claras e revelam luz e volume. Isso vale para qualquer biótipo, confira só na montagem que abre o post. E é a combinação entre esses claros e escuros que nos deixa mais bonitos, mais expressivos, mais interessantes de se olhar.
Artistas já entenderam isso há séculos (basta visitar um museu ou dar um google em quadros da Renascença para constatar), assim como os bons maquiadores, que sabem muito bem que o look perfeito se constrói respeitando essas características. Atenção, não estou falando de strobing ou de contouring muito marcados, mas de trabalhar com transparências, de usar dois ou mais tons de base, de compor o make com produtos e elementos que preservem uma aura natural (e de, por outro lado, fugir de tudo que deixe o rosto chapado, sem vida, completamente uniforme).
Moral da história? É a diversidade – seja na esfera coletiva, seja falando de um único indivíduo – que nos torna mais belos. A natureza sempre ensina lições fascinantes…
Foto-montagem: reprodução Instagram (@missmelodypinup, @eideraguero, @marcosmateuss, @angelicadass)
4 Comentários
Adorei, Cecilia! E viva a diversidade!
Viva a diversidade, sempre! <3
Uau! Amei o projeto, e seu texto está inspirado, parabéns!
Bacana demais o Humanae, não é, Luiz? E obrigada pelo elogio! 🙂